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Estudantes de Medicina participam do IX SIM

Seminário de Internato Médico teve como foco a troca de experiências e o perfil do médico na atualidade.

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Quem é o médico hoje? O que o estudante de medicina deve esperar de sua profissão? O que fazer para não se distanciar da motivação inicial que os fez escolher a medicina? Estes e outros questionamentos foram levantados e discutidos durante a conferência "O ser médico na atualidade", proferida pela diretora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Prof.ª Dra. Maria Luisa Carvalho Soliani para os estudantes de medicina do 11º e 12º semestres, durante o IX Seminário de Internato Médico, realizado no dia 18 de março, na Unidade Acadêmica Brotas que também incluiu a participação de estudantes do 9º e 10º semestres. 
 
“Pensamos que ser médico é ter muitos conhecimentos científicos e habilidades médicas, mas é muito mais que isso. É preciso desenvolver atitudes que se perderam ao longo do tempo e que, na verdade, são pontos muito simples: é olhar o paciente, tocar o paciente, se interessar por ele como pessoa e não como uma doença apenas. O grande desafio hoje é não se deixar levar pela beleza tecnológica, pelo mundo da tecnologia, porque a arte de ser médico não é só ter uma capacidade de adquirir e ter esse conhecimento, mas é muito mais que isso. É pegar esse conhecimento e saber aplicá-lo no paciente como ser humano. E, para isso, você não pode se encantar pela tecnologia. Porém, tem que se estar sempre aberto a estudar, porque, como o conhecimento se renova todos os dias, você tem que ser um eterno estudioso, tem que gostar de estudar, de ler e, dessa forma, não se deixar perder pelo caminho”, declarou Dra. Maria Luisa.

Segundo ela, atentar para o papel humanístico do médico é uma reflexão feita durante todo o curso da Bahiana. “Temos vários momentos do curso em que se faz uma reflexão sobre isso. Principalmente no começo do curso. Mas, é preciso falar disso durante o curso inteiro, porque a possibilidade de se perder nesse mundo é enorme e se você não se resgatar e resgatar seus valores, você pode até ganhar muito dinheiro, mas, provavelmente, não vai ser feliz”.

     

De acordo com a coordenadora do curso de Medicina da Bahiana, Prof.ª Dra. Eliana de Paula, há uma preocupação em formar um profissional com competências, mas também com um apurado senso de responsabilidade social. “O curso de Medicina está estruturado de uma forma que atenda a obtenção de competências. Não só de conhecimentos técnicos. É muito mais. Nós temos que desenvolver as habilidades no fazer, assim como uma atitude proativa de responsabilidade social. Acho que esse é o grande diferencial de nosso curso. E isso não acontece só em momentos estanques. Muito pelo contrário. Desde o primeiro semestre do curso, desde o nosso PROSEF que tem uma parte inusitada com a experiência vivencial. Isso já mostra o diferencial. Isso já mostra que nos preocupamos em todos os momentos”. 

Dra. Eliana destaca ainda a preocupação da instituição em capacitar seu corpo docente para um posicionamento mais humanístico, outro diferencial da formação da Bahiana. “Outro aspecto que tem que ser ressaltado é a qualificação do nosso corpo docente. Temos um alto percentual de profissionais capacitados na área humanista, na área de educação para a saúde, não são meros especialistas na área médica. Eles têm muito mais a oferecer, porque os professores são os espelhos para os nossos alunos. Os campos de prática também são escolhidos “a dedo”. Temos uma grande preocupação em não inserir nossos alunos em ambientes em que não se respeite o paciente, em que se faça a coisa de uma forma mecânica, sem aquele envolvimento tão necessário e importante ao aprendizado”, destaca a coordenadora. 

O Seminário de Internato Médico chegou a sua nona edição como uma oportunidade única de troca de experiências para estudantes que vão ingressar no internato. Para isso, participaram como palestrantes professores da Bahiana e profissionais de outras áreas como conselheiros e advogados do CREMEB. Além disso, estudantes participaram com relatos de experiências de intercâmbio realizado via Programa Ciências sem Fronteiras. Foram temas das conferências as residências médicas no Brasil, mercado de trabalho, avaliação de aprendizagem e os painéis: “Temas controversos na prática médica – aspectos éticos e legais relacionados a: declaração de óbito, prontuário médico, atestado médico, evasão, alta a pedido” e “Temas controversos na prática médica – aspectos éticos e legais relacionados a: prática médica e trabalho em equipe”.

     

Para Marina Silva Ferreira (10º sem.), o encontro é uma oportunidade muito importante para conhecer novas experiências e tomá-las como referência para os anos de internato. “Eu acho muito importante esse seminário porque a gente acaba vivendo muito tempo de internato, são dois anos intensos dentro do hospital convivendo com o residente e com o preceptor e é muito importante esse feedback do pessoal que tem mais experiência e que possa passar um pouco para a gente, porque ficamos muito ansiosos”.

A estudante do 12º semestre, Raisa Lomanto, compartilhou com os demais colegas sua experiência de intercâmbio em Clermont Ferrand, no interior da França. Durante um ano, ela pôde desenvolver suas habilidades e conhecer de perto o sistema de saúde francês. “Valeu muito a pena ter ido. Primeiro, por conhecer muita gente diferente. Segundo, conhecer um sistema de saúde diferente do nosso que, na teoria, se apresenta melhor, mas o sistema deles funciona melhor do que o nosso. Foi muito bom conhecer esse sistema que tem igualdade de cuidado com qualquer pessoa que esteja morando na França, seja francesa ou não, tenha o mesmo tipo de acesso à saúde. Não tem a divergência que temos aqui entre o SUS e o atendimento privado”. 

Ela relata ainda os aspectos positivos do aprendizado pessoal e profissional. “Na parte profissional, foi um vantagem. A gente volta com vontade de ter no Brasil um sistema que conhecemos lá. A gente volta com vontade de querer mudar e melhorar o nosso sistema. E na parte pessoal aprendemos a ser muito mais acolhedores e empáticos, pois passamos por situações em que as pessoas são mais difíceis. Então, aprendemos a nos colocar mais no lugar do outro. A gente melhora um pouco como ser humano”.


Entrevista

A estudante do 12º semestre, Ludmila Cordeiro, também passou um ano na França, realizando intercâmbio em Paris, também por meio do Programa Ciências sem Fronteiras. Confira um pouco dessa experiência.

Você indicaria essa experiência? Por que escolheu a França?
Indico sim, 100%. A minha escolha pela França, primeiramente, foi porque é um país que permite ao estudante estrangeiro realizar um internato com experiência prática, parecida com  a que temos aqui no Brasil. Aprendemos com médicos a realizar procedimentos, atender os pacientes em outra língua, pensar de uma maneira diferente, porque o sistema é diferente, é uma experiência que eu indico.

Como você se preparou para esse intercâmbio?
Antes de eu pensar em fazer esse intercâmbio, eu já estudava francês (durante dois anos). Eu já fazia pesquisa no CNPq e me escrevi no programa Ciências sem Fronteiras. Por conta da língua, foi bem difícil, no começo, nos dois primeiros meses, mas, depois, foi aprendizado o ano inteiro.

Como trazer essa experiência para a nossa realidade?
A nossa preocupação mesmo é com o sistema de saúde que a gente vê que é possível fazer um sistema que funcione, atendendo as pessoas com dignidade e realmente resolvendo os problemas. Um sistema resolutivo, como é o francês. Claro que não é perfeito, mas é muito resolutivo, sobretudo comparado ao nosso. Então, dá para a gente compartilhar isso que a gente aprendeu, compartilhar esse conhecimento e, cada vez mais, tentar adaptar para nossa realidade.

Como foi lidar com um perfil de paciente diferente?
É, com certeza, positivo. Aqui lidamos com um perfil de pessoas de um país em desenvolvimento. Temos pessoas com mais doenças infecciosas, parasitárias etc. Lá, é um perfil de pacientes mais crônicos. Há mais neoplasia, mais doença autoimune que a gente não vê muito aqui. Então, acho que é de grande valia aprender o perfil epidemiológico de outro país, porque acho que aqui existem essas doenças, porém em menor número de casos, mas conseguimos aplicar esse conhecimento também.

O que você apontaria de ganhos com essa experiência?
Eu diria, a cultura francesa. Quando a gente sai do hospital e passa por uma exposição, por um concerto gratuito ao ar livre. A experiência de ter um transporte público de qualidade – nenhum dos meus colegas tinha carro e ninguém se atrasava para chegar aos hospitais que, muitas vezes, eram longe. Essa experiência cultural de o sistema funcionar de uma outra forma é muito edificante.  
 

 

 

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