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PET RODA SOCIAL discute temática LGBT

Evento é uma iniciativa do PET de Odontologia da Bahiana.

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“O objetivo do evento foi reunir pessoas que pudessem compartilhar suas experiências relacionadas a acesso aos serviços de saúde para os grupos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros (LGBT), proporcionando uma discussão aberta ao público, debatendo um tema polêmico e que vem sofrendo mudanças no paradigma da atualidade em relação à saúde e à sociedade”, relata a aluna e bolsista do PET do 5º semestre de Odontologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Ingrid Theresa Lino, 20 anos, que esteve presente no PET RODA SOCIAL, na Faculdade de Ciências Gerencias da Bahia (UNICENID), na noite do dia 28 de outubro.

A programação, iniciativa do PET Odonto da Bahiana, foi aberta ao público e reuniu discentes e docentes do curso de Odontologia da Bahiana, promovendo um debate acerca da negligência dos órgãos de saúde em relação aos LGBTs. A mesa de abertura foi composta pelo co-tutor do PET de Odontologia da Bahiana, Ricardo Araújo da Silva, a jornalista Rita Batista,o sociólogo Caio Cerqueira, o Padre Alfredo Dórea e a Integrante do Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT, Keila Simpson.

“Não temos uma discussão dessa na área da saúde, é muito difícil para a formação dos profissionais de saúde, termos debates como esse envolvendo o grupo LGBT, especificamente os transexuais e sabemos que os profissionais necessitam ter o domínio do assunto para tratar inclusive de algumas demandas que são rotineiras no cotidiano da unidade básica de saúde. Esses profissionais ainda têm uma série de medos e tabus para esses tratamentos”, relata o professor Ricardo Araújo.


Durante o debate, foram levantadas questões que dificultam o acesso à saúde para a população LGBT e os constrangimentos a que eles são submetidos ao ingressarem no serviço de saúde para obter tratamento médico.


“Trabalho em uma organização não governamental que assiste pessoas portadoras do HIV e muitas são LGBTs. A dificuldade do acesso ao serviço pela condição LGBT é gritante. A menina que nasceu com um órgão genitor masculino, o menino que nasceu com órgão genitor feminino, esses ainda têm muita dificuldade no atendimento e são submetidos à chacota. Portanto, vim trazer para o debate essa dor, esse sofrimento que acompanho diariamente e partilhar com futuros profissionais de saúde e os demais presentes para possamos ser uma luz para essa sociedade tão repressora”, conclui o Pe. Alfredo Dórea.

A jornalista Rita Batista relata que o debate é de interesse de toda a coletividade por fazer esse recorte na saúde. “Quando falamos de pessoas não preparadas tanto na área de saúde quanto ‘todos de um todo’ do ‘trade’ saúde, amplio isso para a sociedade. Percebo muito isso nas relações, na vida e na comunicação, principalmente porque as pessoas ainda têm muita dificuldade e não e só a falta do conhecimento, mas uma questão de cunho social, em tratar as outras pessoas como elas devem ser tratadas. Não falo só de gentileza, educação formal e doméstica, estou falando da construção da personalidade desse indivíduo que se precisa respeitar e conviver com as diferenças”, conclui.

“Na verdade, acho que é o melhor espaço que tenho para dialogar justamente quando venho para debates como esses. Eu sou Keila, sou uma travesti de 50 anos e digo, em todo lugar que eu vou, para romper com essa barreira de gêneros. Eu tenho um órgão genital que diz que eu sou macho e tenho essa aparência feminina que diz que sou fêmea, logo, acabo rompendo com essa barreira de gênero em qualquer lugar que ela esteja presente. Sou prostituta, por uma decisão minha e adoro fazer prostituição e não quero que ninguém venha me contrariar porque meu lugar é lá, na rua, quando estou sendo disputada por homens. Sou prostituta e sou feliz”, relata Keila Simpson.

     


A coordenadora do Grupo Mães pela Diversidade, Inês Silva, comentou, durante o debate, sobre suas superações na descoberta de ter dois filhos homossexuais e que, inclusive, tentou suicídio nas duas descobertas. “Eu tenho dois filhos, um filho gay e uma filha lésbica, sou casada há 28 anos com o mesmo marido e a minha descoberta não foi fácil, primeiro descobri que minha filha era lésbica de uma maneira, confesso, errada da minha parte: pela internet, no e-mail pessoal dela, mas sempre fui uma mãe muito presente, sempre quis que os amigos dos meus filhos frequentassem a minha casa e eles sempre namoraram pessoas do sexo oposto, até então eram heterossexuais. Mas eu percebia que havia algo errado com os dois e, depois de um ano, meu filho estava noivo e me falou que estava apaixonado por outro homem. Tomei outro choque. Vivíamos naquela sociedade-padrão na qual construímos conceitos e, aceitar isso, foi muito complicado”.

De acordo com a estudante 4° semestre de Odontologia da Bahiana, Layana Sampaio, as experiências e as opiniões compartilhadas no evento irão influenciar na forma com que os estudantes vão atuar no mercado de trabalho e em sua visão sobre como é, de fato, o Sistema Público de Saúde. “A sensação que eu tenho é que já existe uma forma de funcionamento, vamos acompanhando essa forma e, talvez, não querendo justificar, isso acontece quando vamos atuar profissionalmente nos centros públicos de saúde. Vemos as coisas acontecendo de uma forma e tentamos nos adaptar, sendo que, na verdade, encontros como esses são importantes para mostrar que devemos nos posicionar contra a ordem que o sistema impõe”, finaliza.